domingo, 27 de novembro de 2011

O fogo fala


Não há nada que diga "Fica!" como o fogo, e ainda que nada diga, amarra. Porque lá fora, te aguarda o frio e aqui te guarda o calor? É mais do que isso, é primitivo... Ele não nasceu do fósforo, não pertence à lareira. O fogo nasceu pelo suor das pedras, conheceu os teus pés nus, pousados na terra. Enquanto aquece, hipnotiza-te o corpo, pois também tu és primitivo. Vai lançando lembranças de sobreviver, de proteção,  de carne, de caça. Muito antes do conforto, o fogo faz conversas sobre a vida.

Eu agradeço ouvindo, como se agradeçe a um ancião. Vou respondendo com o olhar, com a ancestralidade que vai sendo devolvida ao meu olhar. Numa invocação marcada por breves estalidos, enfeitada de estrelas ascendentes e dançada por labaredas encantadas. Conversando, queimando, vamos ambos, esmorecendo, companheiros aparentemente efémeros, secretamente eternos, intimamente ligados a um pacto ignorado.


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