terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Muito eu, muito outros.

Quando eu me apercebo, não é que apanho o tramadinho a conjecturar, a divagar, a nostalgiar (sim sim, nostalgiar, se não existia passa a existir), ou mais visualmente, a fazer-se de coitadinho, de cão abandonado, de perfeito Bambi recém-orfanizado (orfanizado - também passará a existir)! E às custas de quem? Do meu espírito desprevenido, que sem saber porquê, fica murcho, cinzento e arrastado....

Felizmente, eu apanhei estes dois a tempo, ao mesmo tempo que apanhava com o sol e o céu azul nos poros! (Este país pode ser um barco à deriva, apanhado num tufão... mas este azul, este sol, este calor outonal é pura redenção...).  Estava eu então, nesse estado privilegiado, quando vejo o coração, a exercer bulling do pior, sobre o meu espírito. 

O coração é mesmo assim, vai-se entretendo com coisinhas pequenas, só para passar o tempo, para se fazer útil. O resultado infelizmente, é um ruído de fundo, um enredo inútil, um espaço atafulhado. Como o Abu na caverna dos desejos, ele fascina-se por brilhos que parecem tesouros, negligenciando e pondo em causa o verdadeiro motivo para terem descido àquele buraco.

Nisto, lembro-me do "Riso de Deus", da "Divina Comédia " (cujo conteúdo nada tem a ver com este tema, apenas o título é para aqui chamado) , e de um poema da Santa Teresa "And laughter came from every brick in the street". Os seres humanos, quando experiênciam momentos de êxtase transcendental, surgem muitas vezes com esse conceito, do riso de Deus*.

Entretidos na teia entediante do coração, somos subitamente elevados, e de repente tudo surge completo, explicado, pleno. Sem que nada mude, tudo é bom, o mesmíssimo tudo passa a maravilhoso. Tudo é desfrutado, a chuva, os desconhecidos, os enredos... Neste estado o que parecia grave, sério e incontestável, provoca um riso... Assim, envoltos na plenitude de existir, sabemos que Deus ri, ri sempre e nós, às vezes, temos o doce doce previlégio de rir com ele...


*Deus = luz/alegria que permeia todas as coisas no estado de plenitude/transcendência


(...)
Love once said to me, "I know a song,
would you like to hear it?"

And laughter came from every brick in the street
and from every pore
in the sky.

After a night of prayer, He
changed my life when
He sang,

"Enjoy Me."

Santa Teresa

Sem comentários:

Enviar um comentário