quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Mas se somos nós que nascemos para arcar com o mundo... - Parte 2

Porque nos apaixonamos, uma e outra vez, e não somos correspondidas, passa a parecer pouco provável duas pessoas estarem em sintonia nesse sentimento arrebatador. Porque esse sentimento arrebatador, parece deixar de acontecer e as pessoas surgem vulgares. Porque passam dias, meses e anos numa mistura tóxica destes acontecimentos... Os sonhos são escondidos debaixo da cama, com resignação, até com vergonha e algum medo do fracasso que possam suscitar.

E neste estado de espírito, podemos permitir outro tipo de amor na nossa vida, não o sonhado, mas aquele a que se poderá chamar "amor possível"... Um amor que vem de quem nos quer, para quem somos não uma dádiva, mas um presente, entre outros presentes, um presente com um embrulho particularmente brilhante, fazemos barulhos engraçados e emitimos luzes que piscam. Claro que neste contexto, sermos bem ou mal amadas, é uma questão de disposição, de estar sol ou estar frio, de estados de tédio ou de carência, de existirem ou não outros brinquedos que fazem coisas novas como lançar bolinhas ou comer bolachas. Claro que neste contexto, nos tornamos cautelosas, controladoras, carentes e passado algum tempo, amargas e insuportáveis. Estes não são os principes, são as bruxas más, as maças envenenadas, as irmãs invejosas... sempre vestidos de "gosto de ti". Quem constitui uma ameaça, não é o estranho ameaçador, nem o terrorista, nem o antrax ou o H1N1. A verdadeira ameaça vem de um "gosto tanto de ti" misturado com alguns gestos que o comprovam e alguns gestos que o negam, em partes bem distribuidas.

Então num belo dia, talvez frio e luminoso, percebe-se que nada aí é suficiente, que a carência tomou proporções insustentáveis e que está na altura de ir debaixo da cama, e voltar a desejar, um desejo tão pequeno que pode ser sussurado e deixa-lo ir com o vento... Esse desejo, pequeno, mas com a clareza e o brilho de um diamante, basta para acordar de novo o coração desacreditado. E num outro dia, também belo, talvez quente e chuvoso, ouve-se o galope, vê-se o cavalo branco, aproxima-se o príncipe e ele pede a tua mão... Nesse dia, o melhor de dois mundos funde-se, as mulheres possuem a doçura das princesas, mas já são meninas grandes que recuperam o brilho dos sonhos concretizados e de muitos mais por sonhar...

As princesas, as meninas pequeninas, trazem em si, a noção perfeita de amor. As mulheres, as meninas grandes, trazem em si o grande medo de serem mal amadas, porque, depois disto e daquilo, já não se sentem donas da totalidade dos seus sonhos. A defesa que conheço, a esse triste quadro, é armar-se da força encantada dos sonhos passados, da certeza absoluta sobre o que é, verdadeiramente, o amor, certeza que nos pertence à nascença.

Esta é a maneira, a única maneira de seguir neste mundo, porque "realidade" e "sonho",  são conceitos que uso para escrever, conceitos que na verdade são sinónimos, encontram-se, misturam-se e diluem-se. Retirar um do outro é tirar o direito à vida e viver em condenação de si.

Talvez não se suspeite, mas depois de tornar publico o que escrevo, debato-me com alguma vergonha sobre as minhas palavras, ando a tentar resistir-lhe, porque é isto que faz sentido para mim... o expressar-me e expôr o exorcismo dos meus fantasmas, na esperança de levar outros nessas viagens. Esta que descrevo agora, parece-me vital. Conheço mulheres que chegaram ao amor sem terem traido os seus sonhos (a melhor sorte), conheço mulheres que não tiveram espaço para chegar a sonhar, mas sei que todas guardam o conhecimento preciso do amor que eleva. E este, não é coisa que se possa relativizar, sobre ele nao se fazem concessões... podia continuar a reforçar a pertinência e tantas vezes a urgência desta ideia, mas fico por aqui e deixo que seja o coração, a emoção lá contida, a fazer o resto. Finalmente deixo esta frase que apareceu no meu Facebook e que não podia vir mais a calhar, numa linguagem bem mais clara do que a minha: A maior covardia de um homem é despertar o amor de uma mulher sem ter a intenção de ama-la. (Mas as mulheres não precisam de ser vitimas de covardias, as meninas de 7 anos nunca o seriam...)

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